Flávio Cerqueira

Foi assim que me ensinaram, 2011

Nós que aqui estamos por vós esperamos, 2011

Flávio Cerqueira (Brasil)

 

O artista Flávio Cerqueira interessa-se pela escultura figurativa como potencial para trabalhar a realidade social. Ao trabalhar o bronze, matéria dura e opaca, o escultor recobre-a de um monocromatismo – geralmente a negro ou a branco – onde os personagens são oriundos da observação da sociedade. Sua galeria de personagens são Betos-sem-braços, meninos de rua, crianças em situação de desamparo e abandono. Noutras situações o artista recorre a personagens da iconografia oficial como uma Madonna ou então a um anão, numa clara alusão ao artista Juan Muñoz, uma das suas referências escultóricas, e também a Goya.

Na sua primeira exposição individual na Europa, Flávio Cerqueira apresenta duas obras criadas para o Palácio Pombal e que de alguma forma respondem ao anseio de um jovem artista quando vem ao continente europeu. Modelo civilizacional e humano, a Europa é o berço e o baluarte das ciências, das artes e da cultura, servindo até hoje de parâmetro de civilização pelos bens históricos e artísticos que detêm em suas cidades e museus. A primeira peça que o artista apresenta é a escultura Foi assim que me ensinaram. Esta é uma crítica ao ensino nas escolas de arte que preparam mal aos artistas, privilegiando a techné em detrimento do conhecimento sistematizado da história e da teoria da arte. Tomada como um auto-retrato i.e. um retrato dos milhares de artistas que deixam as escolas de arte sem a mínima noção dos feitos históricos dos antepassados, a peça é uma crítica profunda ao sistema educacional nos dias de hoje.

No jardim do Palácio apresenta a instalação Nós que aqui estamos por vós esperamos onde o artista volta a questionar a posição do artista contemporâneo e as suas relações com a histórica e a reverência aos grandes criadores do passado. Nesta instalação o artista elege os mestres do Renascimento e da Modernidade colocando-os ao lado de alguns nomes mediáticos que mobilizam a audiência mundial. Assim, Flávio Cerqueira recria a tradição da Vanitas de modo extremamente crítico.

Co-produção: Zipper Galeria

 

Flávio Cerqueira vive e trabalha em São Paulo.

Em 2005 concluiu o curso de Educação Artística na Faculdade Paulista de Artes, São Paulo e desde 2009 participa no Ateliê Fidalga, com acompanhamento de projectos, coordenado pelos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Desde os tempos de estudante pesquisa a linguagem tridimensional com enfoque na produção figurativa. Em 2006, após uma visita às cidades de Carrara e Pietra Santa na Itália, e aos estúdios de Michelangelo Buonarotti, resolveu dedicar-se essencialmente à escultura figurativa. O trabalho de Flávio Cerqueira gira em torno de assuntos como solidão e exclusão, questões ligadas a parte emocional e frequentemente questiona tabus e excessos da arte e seu mercado.

A participação do seu trabalho em Salões de Arte no Brasil tem sido significativa: ganhou os Prémios na X Bienal do Recôncavo, São Félix, Bahia, Brasil (2010), no 35º Salão de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil (2010), no 9º Salão Nacional de Arte de Jataí, Goiás, Brasil (2010) e Menção Honrosa no 19º Encontro de Artes Plásticas de Atibaia, São Paulo, Brasil (2010) e realizou inúmeras exposições colectivas e individuais.

Em 2010 está em Residência Artística no Carpe Diem Arte e Pesquisa sob orientação dos curadores Paulo Reis e Lourenço Egreja.