É bem sabido que, em Marrocos, o dromedário tem maior estatuto do que o cavalo e embora ninguém confunda um com o outro, há algumas diferenças que não se percebem à primeira vista. Por exemplo: resulta relativamente fácil juntar dois cavalos, um ao lado do outro, para puxar uma carroça, mas nunca dois dromedários, que não fariam mais do que guerrear um com o outro. Consequentemente, uma das imagens mais chamativas do Marrocos rural é a de um arado puxado por um dromedário aparelhado com uma mula. Não sei porque me vem à mente esta imagem quando penso no duo formado pelo improvisador espanhol franco-americano Wade Matthews (Madrid – síntese digital, gravações de campo y objetos amplificados), e o português de pseudónimo árabe-francoautoreferencial, Abdul Moimême (Lisboa – guitarra elétrica). Será pela ideia de duas criaturas mui distintas que trabalham divinamente juntas, sulcando um terreno tão fértil quanto fecundo, sem pressa mas sem pausa, na cintura da primavera peninsular.

WADE MATTHEWS - síntese digital, gravações de campo y objetos amplificados 
ABDUL MOIMÊME - guitarra elétrica